Ao longo dos últimos meses, a interdependência entre interação social e saúde mental nunca esteve tão evidente e manifesta. Entretanto, se isso parece tão óbvio visto desde dentro da nossa própria casa, imagine para aquelas pessoas que não tem onde morar – comunidades forçadas a abandonarem sua pátria para poder sobreviver ou em busca de uma vida melhor e mais segura. Estima-se que atualmente mais de 70 milhões de pessoas, das quais 25 milhões são refugiados, enfrentam traumas e problemas de saúde mental por estarem longe de casa, ou pela falta de um lugar seguro para viver.
Iniciativas sociais desenvolvidas em forma de construção de abrigos e centros comunitários são, portanto, um ponto de apoio fundamental para a saúde mental destas pessoas. Espaços de convívio e acolhida, quando adequadamente projetados, podem proporcionar qualidade de vida e permitir que estas pessoas se engajem em uma vida em comunidade, respeitando sua dignidade e autonomia, assim como fornecendo-lhes informações adequadas e tratamento psicossocial para ajudar a minimizar o inevitável sofrimento.
Arquitetos e lideranças comunitárias são figuras importantíssimas para o desenvolvimento e implementação de espaços sociais emergenciais, estruturas que podem promover a inclusão e construir comunidades, proporcionando qualidade de vida, saúde mental e, em alguns casos, formação e treinamento para atividades específicas, permitindo uma inclusão mais rápida e efetiva destas pessoas em situações de vulnerabilidade social.
Centros Comunitários para Populações em Situação de Emergência são, portanto, estruturas essenciais em um mundo cada vez mais instável e incerto, as quais podem ser facilmente construídas de formas simples e descomplicadas, através de materiais e sistemas construtivos locais, proporcionando inclusão social e qualidade de vida para aqueles que mais precisam.
Uma estrutura de apoio emergencial pode ser uma estrutura temporária ou um edifício existente adaptado para acolher novos usos. Intervenções como esta podem ser realizadas com custos mínimos, principalmente quando se trata da readaptação de espaços existentes. É importante ressaltar que um centro comunitário pode ser apenas um teto ou um lugar onde as pessoas possam se reunir.
Centro Cultural Dawar El Ezba / Ahmed Hossam Saafan
Ano de 2019 - “O edifício do Centro Cultural Dawar El Ezba atua sobre o tecido arquitetônico deteriorado de forma a revelar as possibilidades de se utilizar recursos e técnicas construtivas locais, criando um valor estético e funcional. Formalmente, o edifício busca criar uma plataforma interativa para as crianças, jovens e adultos de um dos maiores assentamentos informais do Cairo, a comunidade de Ezbet Khairallah. Através de estratégias sustentáveis de projeto, os arquitetos procuram privilegiar a qualidade de vida, construído um ambiente que facilita a solidariedade e celebra a diversidade.”
Outra forma muito simples de se construir e fortalecer comunidades é através da edificação de estruturas descomplicadas e de caráter temporário, como pavilhões, tendas, centros comunitários, etc. Estes edifícios, quando construídos através de um processo participativo e inclusivo, a partir de materiais e técnicas construtivas locais, pode oferecer muitos resultados positivos em busca de reconstruir comunidades vulneráveis e reaproximar pessoas em situação de emergência. Elas não apenas incentivam o uso de mão de obra local e o engajamento da comunidade – incluindo possíveis refugiados –, mas privilegiam também o uso de materiais naturais e inerentes ao território (tijolos de barro, palha, madeira e bambu).
Essas estruturas, na maioria dos casos, são instalações bastante simples e descomplicadas. Elas incluem sistemas tradicionais de construção e costumam se adaptar facilmente ao estilo de vida destas comunidades, oferencendo soluções rápidas e baratas que podem transformar a vida destas pessoas.
Os arquitetos também têm a liberdade de projetar estruturas flexíveis e multifuncionais, espaços capazes de acolher as mais diversas atividades e programas. Ao longo dos últimos anos, o projeto de estruturas temporária, seja para providenciar abrigo à comunidades em situação de emergência ou para acolher imigrantes e refugiados, se multiplicaram exponencialmente, oferencendo novas oportunidades de inclusão social, priorizando o bem-estar e transformando vidas.
Da paisagem natural à construída / Laura Katharina Strähle & Ellen Rouwendal
Ano de 2016 - “Simplicidade, soluções de projeto de baixa tecnologia, materiais e técnicas locais assim como um processo sustentável e participativo são os aspectos mais importantes quando se pretende engajar a comunidade local em um projeto emergencial.”
Abrigos para imigrantes e viajantes / Atelier RITA
Ano de 2016 - “Neste projeto desenvolvido pelo Atelier RITA a emergência é utilizada para expressar aquilo que é mais essencial na arquitetura. A primeira questão é: Como oferecer dignidade e qualidade de vida à uma população em situação de emergência? O projeto foi pensado como uma pequena comunidade, criando uma sensação de identidade e pertencimento, independentemente da origem das pessoas que aqui serão recebidas. Entre o espaço público e o espaço íntimo dos abrigos, todos os moradores são convidados a se engajarem com a vida em comunidade.”
Promise at Dawn, Centro de Acolhimento Emergencial / AIR + Moon Architecture
Ano de 2016 - “Ainda que construído para operar por um período limitado de tempo, de caráter temporário, o edifício do Centro de Acolhimento Emergencial da cidade de Paris foi concebido como se fosse durar para sempre. Esta intenção de permanência era algo muito importante para os arquitetos, que esperavam que as pessoas que viessem morar aqui se sentissem parte deste lugar, e não apenas mais um lugar de passagem como tantos outros pelos quais pessoas em situações de vulnerabilidade costumam passar.”
“Os projetistas insistiram na importância de criar uma estrutura que expressasse seu caráter sustentável e permanente, um edifício que representasse a estabilidade e a qualidade de vida que estas pessoas tanto necessitam. Isto se reflete no tratamento da fachada, executada em madeira natural a qual expressa uma ampla gama de cores que encontram ressonância nas árvores que cercam o edifício. Os espaços de uso comum são amplamente iluminadas, algo que tampouco contava no programa de necessidade do cliente, assim como as dimensões generosas das suas aberturas.”
Colégio InsideOut / Andrea Tabocchini & Francesca Vittorini
Ano de 2017 - “O resultado é um trabalho que esfumaça o limite entre interior e exterior, oferecendo uma alternativa às salas de aula padrão e introvertidas, propondo um desenho acessível e facilmente replicável que valoriza os conhecimentos locais e supera seus limites.”
100 Salas de Aula para Crianças Refugiadas / Emergency Architecture & Human Rights
Ano de 2017 - “Devido à escolha limitada de métodos e materiais de construção, e ao ambiente severo caracterizado por verões quentes e invernos frios, o estilo de colmeia é uma solução viável para uma construção escolar. Este tipo de técnica não requer reforços de alta resistência à tração e pode ser construída rapidamente com mão-de-obra não qualificada, com melhor desempenho do que tendas, blocos de cimento e chapas onduladas em termos de isolamento térmico. Em comparação com uma estrutura de bloco de cimento de dimensões similares, os custos de construção são reduzidos pela metade.”
“Durante a construção, a EAHR treinou trabalhadores locais em métodos de construção de super-adobe, que também podem aumentar os meios de subsistência e fortalecer a resiliência da comunidade local. Este método pode permitir que essas habilidades sejam reincorporadas para construir edifícios mais sustentáveis, de baixo custo e de eficiência energética dentro dos assentamentos informais circundantes e durante a futura reconstrução da Síria.”
Centro Comunitário de Naidi / CAUKIN Studio
Ano de 2018 - “Durante o processo de projeto, desenvolvido com a colaboração da comunidade local, ficou claro para os arquitetos que seria necessário construir um espaço flexível, um lugar onde fosse possível realizar as mais diversas atividades, desde encontros informais, oficinas de artesanato até celebrações e eventos diversos. O CAUKIN Studio acredita que ter um espaço como este à sua disposição, é vital para o desenvolvimento social de uma comunidade.”
Centro de Tecnologia e Agricultura no Cambodja / Squire & Partners + SAWA
Ano de 2018 - “Projetado como uma colaboração entre a Squire & Partners e a SAWA para a Fundação Green Shoots, o projeto foi construído por empreiteiros locais, agricultores e jovens de 16 a 25 anos durante um período de quatro meses e foi também assistido por voluntários do Reino Unido. O projeto fornece educação em tecnologias agrícolas para apoiar crianças e adultos na comunidade local, além de buscar uma facilitação que atraia empresas para a região.”
A Casa das Mulheres de Ouled Merzoug / Building Beyond Borders Hasselt University
Ano de 2019 - “A Casa das Mulheres é o resultado de um longo processo participativo que procurou desde o início engajar a comunidade local de Ouled Merzoug: um espaço de encontro, trabalho e aprendizagem para mulheres no centro da aldeia. Um lugar onde elas podem produzir e comercializar seu artesanato com pessoas de comunidades vizinhas e visitantes. Neste projeto, vários princípios sustentáveis foram utilizados, priorizando o uso de materiais locais e de fontes renováveis assim como estratégias para maximizar as condições de confronto e técnicas construtivas vernáculas.”
Centro Comunitário Integrado no Campo de Refugiados em Hindu-paraRohingya / Rizvi Hassan
Ano de 2019 - “A comunidade local de Hindupara em conjunto com os moradores do Campo de Refugiados de Hindu-paraRohingya construíram juntos um Centro Comunitário do qual todos podem se beneficiar, contando com infra-estruturas de apoio psico-social, formação e gestão e compartilhamento de conhecimento.”
“Este é o maior campo de refugiados da região e foi construído em tempo recorde de forma participativa por todos os moradores e utilizando apenas recursos locais. Estruturas de bambu e palha podem ser montadas rapidamente permitindo que o campo possa crescer de forma orgânica para melhor atender as demandas da comunidade.”
* Os textos citados são trechos das matérias e artigos enviados pelos arquitetos e publicados anteriormente no ArchDaily.
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